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segunda-feira, 26 de junho de 2017

É preciso cair da bicicleta ??


A interioridade é, hoje em dia, um bem bastante raro.

Desde muito cedo, somos treinados para ver a vida como uma série de objectivos e conquistas externos.
Podemos ser bem-sucedidos ou fracassar nesse processo.
Seja como for, o nosso foco está treinado para se virar para fora, para a próxima montanha que temos que escalar, a próxima barreira ou oportunidade.


Então, um dia, talvez sejamos atirados ao chão, caindo da bicicleta.

Foi isto que aconteceu a um aluno meu, com uma vida muito disciplinada e um passado militar.
Ele falou sobre isso quando voltou, um ano mais tarde, como orador convidado no curso.
Tinha sido atingido por um camião e saltou em voo, magoando severamente a face e sofrendo danos cerebrais.
Mostrou à turma fotografias suas e era difícil acreditar que ele tinha recuperado tão bem como tinha acontecido.
Para além dos danos ósseos que tinham sido reparados, ainda sofria de terríveis dores de cabeça.
Tinha descoberto que a meditação era a única forma de as fazer parar.
Os médicos disseram-lhe para não fazer nada, para dormir o mais possível e acrescentaram: “tente não pensar”.
Este último conselho intrigou-o.
Como é que se pode parar de pensar?

Então, lembrou-se de que a meditação se baseava completamente em não pensar, certo?

A sua determinação em melhorar e a falta de pena de si mesmo ou de negatividade impressionou-nos a todos.
Mas o que ainda mais nos impressionou foi a mudança pessoal nele próprio, depois das suas tribulações lhe terem mostrado que a vida não consistia apenas em objectivos exteriores.
Tinha descoberto a sua vida interior.
Conhecia-se a si mesmo como sendo o sujeito das montanhas que queria escalar e das oportunidades que tinha que aproveitar ao máximo.

Não era a primeira pessoa a dizer que uma tragédia, que qualquer de nós temeria sequer imaginar, lhe tinha ensinado algo mais valioso do que o sofrimento que a acompanhou.
Com o despertar da dimensão interior da consciência veio o discernimento e a perspectiva.
Tudo na vida podia, então, ser melhor valorizado e priorizado.


E a ilusão e a realidade distinguiam-se muito mais obviamente uma da outra.

O conhecimento espiritual tem prioridade.
Para o encontrar, são necessários períodos de quietude e da prática do desprendimento.


Em alternativa, podemos sempre esperar por ser atirados da bicicleta ao chão.

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